Laçada Certeira
Nos anos 50, um teco-teco foi laçado em pleno voo por peão de Santa Maria. A história foi notícia no mundo e será contada em filme.
Um romance interrompido. Um piloto aventureiro disposto a mostrar para a amada todo o rancor com o fim do relacionamento jogando do céu as correspondências trocadas. Um peão aventureiro, daqueles bons de laço, louco para fazer uma travessura. Esses já seriam elementos suficientes para uma boa história. Boa, mas não extraordinária. O que tornou o fato, ocorrido no começo da década de 50, na fazenda Tronqueiras, em Arroio do Só, distrito de Santa Maria, notícia até nos Estados Unidos foi o peão ter laçado o avião.
Até hoje, na Internet, em blogs e sites, a história é contada como lenda ou causo. Mas, para Irineo Gabriel Noal, que morreu no último dia 5 devido a uma doença terminal, e Euclides Guterres, que faleceu em 1981, de leucemia, essa foi a maior aventura de toda a vida. Quem souber de outro piloto que tenha saído sem nenhum arranhão, após a hélice ser trincada por uma laçada certeira, ou conhecer outro laçador capaz de segurar um teco-teco pelo “bico” que duvide da habilidade que ambos tiveram naquela que é considerada uma das maiores proezas da aviação brasileira.
Noal tinha 21 anos quando foi laçado no céu de Arroio do Só. O fato teria acontecido entre dezembro de 1951 e janeiro de 1952. Ele não gostava muito de conversar sobre a história. Mesmo porque, algum tempo depois, casou-se com outra namorada.
– Não era por acaso que o pai era conhecido como Gringo Louco. Ele gostava de pilotar e, mais ainda, de aventura. O meu avô tinha medo de voar. Mas, uma vez, o meu pai o convenceu a voar com ele. Quando o vô percebeu, eles estava passando por baixo da ponte do Passo do Verde – lembra o filho de Noal, Alexandre Noal, 48 anos.
Alexandre também conta a história que tornou seu pai mundialmente conhecido no curta-metragem O Homem que Laçou o Avião, que deve ser lançado em breve .
Noal pilotava um Paulistinha prefixo PP-HFE, batizado de Manoel Ribas. O avião era do Aeroclube de Santa Maria. Segundo Alexandre, apesar de existirem diferentes versões para o fato, o que foi contado por seu pai é que ele queria devolver as cartas de uma ex-namorada. Por isso, resolveu dar rasantes na fazenda Tronqueiras, onde a moça morava e que até hoje pertence a família dela, até que ela saísse de casa e ele arremessasse as correspondências
Ao dar os voos rasantes, Noal espantou o gado que estava sendo cuidado por Euclides Guterres, 24 anos. O peão teria ficado injuriado porque estava curando uma novilha com bicheira, mas ela teria se assustado com o barulho do teco-teco. Por isso, teria ameaçado laçar o Paulistinha. Noal teria achado graça e, a cada laçada sem sucesso, teria zombado do peão, mandando que tentasse novamente.
– Mas o peão acertou. Um pedaço da hélice trincou, e o laço arrebentou. Ele (Noal) contava que chegou a pensar que o avião iria cair. Acabou tendo de pagar 2 mil cruzeiros por uma hélice nova e ainda perdeu o direito de pilotar. A fama ficou com o peão. Para o meu pai, só sobrou o prejuízo – diz Alexandre.
Da laçada ao pouso, foram oito minutos
O voo de Noal entre a fazenda e o aeroclube demorou oito minutos. Ao pousar, ele mentiu que foi um acidente. Porém, a diretoria percebeu o pedaço de laço enrolado na hélice, e o piloto acabou multado e expulso. Enquanto isso, Guterres passou três dias escondido no mato, temendo ser preso. Quando foi procurado pela revista O Cruzeiro para reconstituir o fato, Guterres percebeu que não tinha virado bandido e, sim, herói.
Para quem duvida da história, Alexandre faz questão de mostrar a hélice de madeira do Paulistinha, que fica exposta na Ferragem Bozano, de propriedade da família. Enrolado nela, está o pedaço do laço de 13 braças e couro cru trançado.
– Até hoje, chega gente pedindo para ver a hélice. Já veio até um ônibus de excursão com argentinos – conta Alexandre.
Para o publicitário e suboficial da reserva da Aeronáutica Afonso Azevedo, 62 anos, pesquisador do episódio do homem que laçou o avião, essa é uma história única na aviação:
– Mas é algo que não deve ser repetido. O risco não vale o feito.
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Escrito por: Maurílio M. A. Santos
Conhecido como: MaurilioTech
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