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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Billy Bob Thornton faz sátira da vontade de fazer guerra em "Jayne Mansfield's Car"


Em filme situado na década de 1960, ator e diretor americano reflete sobre família


                                              JOHANNES EISELE / AFP
O cineasta americano Billy Bob Thornton fez a Berlinale rir nesta segunda-feira com seu filme "Jayne Mansfield's car", uma sátira que concorre ao Urso de Ouro, sobre o espírito guerreiro de seus compatriotas, protagonizada pelos célebres atores Robert Duvall e John Hurt. Thornton, muito popular entre os cinéfilos por ter ganhado um Oscar em 1996 por seu filme Na Corda Bamba e ter sido marido de Angelina Jolie, tece  nesse filme uma trama em torno de uma família no estado sulista do Alabama, na época de guerra do Vietnã.

O patriarca Skip Caldwell, interpretado por Robert Duvall, veterano da Primeira Guerra Mundial, recebe um dia um telefonema de Londres anunciado que sua ex-mulher e mãe de seus filhos morreram. A família britânica da falecida, conduzida pelo seu segundo marido, chega com o corpo para enterrá-lo no Alabama, segundo suas últimas vontades.
O ator britânico John Hurt disse que o que distingue este filme "é que a intimidade de cada personagem está exposta diante do espectador. A personagem principal é uma mulher morta".
Nas primeiras cenas há uma manifestação contra a guerra do Vietnã e quando a polícia decide deter alguns dos hippies presentes está, entre eles, um dos filhos do velho Caldwell.
– O tema principal é a guerra, mostrar como diferentes gerações veem a guerra e destacar nossa incapacidade de tirar lições do passado – declarou Thornton, que explicou que a origem deste filme vem de um trauma de sua infância.
– Aos quatro anos meu pai me levava e a meu irmão para ver acidentes de trânsito. Para ele era uma distração. Ele era um irlandês, veterano da Segunda Guerra, muito violento, dominava por completo a família, não podíamos conversar com ele, não me lembro de ter tido um diálogo – disse.
No filme, aparece Robert Duvall levando John Hurt e um de seus netos a um suposto museu onde era exibido o automóvel Buick azul em que morreu a atriz Jayne Mansfield, em 1967, numa estrada do estado do Mississipi. A atriz Katherine LaNasa, que interpreta uma das filhas do patriarca, elogiou o trabalho de Thornton dizendo:
– Venho de Louisiana e devo dizer que nunca tinha visto uma declaração de amor tão forte aos estados do sul como este filme.
O realizador insistiu que a falta de comunicação nas famílias pode levar a desastres, "como ter a ambição de se alistar para fazer a guerra em qualquer lugar do mundo".
– Passei toda minha vida tentando obter o reconhecimento do meu pai, amava-o mas tinha medo dele. O impulso para escrever o roteiro e fazer esse filme foi a relação com meu pai. Ele morreu quando eu tinha 17 anos. Agora o compreendo melhor, ele só não era capaz de expressar o que passava por sua cabeça – disse.
– Os dois velhos, interpretados por Robert Duvall e John Hurt, lutaram na Primeira Guerra, meu personagem na Segunda e outro na do Vietnã, penso que nunca aprenderemos. Se os veteranos da Segunda Guerra foram tratados como heróis, os do Vietnã eram tratados como mendigos – lembrou.
Thornton disse que quando terminou seu roteiro não conseguiu produtor nos Estados Unidos.
– Tive a sorte de encontrar um russo que gostou do meu projeto – contou.
O produtor russo Alexander Rodnyansky, presente em Berlim, disse que o roteiro o agradou "porque é como um jogo de xadrez. Além disso, gosto do cinema que cria um universo, que propõe uma viagem emocional, capaz de fazer as pessoas rirem ou chorarem".
– Na Rússia, além disso, os cineastas não pensam nos espectadores, diferentemente do que acontece nos Estados Unidos onde o espectador é o mais importante, as histórias são filmadas para que as pessoas as vejam – acrescentou Rodnyansky.

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